jeudi 23 mai 2013

Corpos da microrresistência ou o "Homem dos Pombos"


Quando o clima permite, o grande pátio retangular em frente ao Centre Pompidou, museu de arte moderna em Paris, é ocupado por artistas de rua, pelo público que os assiste; ou aguarda em filas sua vez de entrar, e também pelos passeantes que ali se estendem diante do sol ou, simplesmente, percorrem o largo com um olhar, frequentemente, curioso. Um recorte perimetral desse espaço, nos reserva uma verdadeira performance com hora marcada, duas vezes ao dia.

Monsieur Giuseppe e seus pombos no Centre Pompidou

Um imigrante italiano, morador de rua, chamado Giuseppe, ocupa, nos sete dias da semana um mesmo quadrante - localizado atrás do ateliê do artista Constantin Brancusi, anexo ao museu -, para alimentar centenas de pombos. 

Pouco antes das 18 horas é possível ver as aves empoleiradas sobre o telhado do atelier aguardando a chegada de seu benfeitor que passa horas em curso pelas boulangeries de Paris, recolhendo pães dormidos para alimentá-las. Aos mais fracos fica reservado o milho que o “homem dos pombos” faz questão de comprar e, cuidadosamente, a eles dirige. O mesmo ritual acontece também pela manhã e não deve, em absoluto, ser interrompido, pois o risco é de erguerem-se em revoada os pombos e em fúria a voz do homem.


Ele conta, que pelo fato de alimentar os pombos, já foi multado diversas vezes pela prefeitura e perdeu o direito aos abrigos da cidade, mas, ainda assim, entende que os animais precisam de seu cuidado e afirma que não pretende deixá-los à revelia. Esses episódios duram apenas alguns minutos diários, mas o hábito e a frequência do ato desse senhor, ocupa muito especialmente, aquela área do pátio, deixando registros peculiares que tornam aquele um espaço de pertencimento, aos pombos e seu senhor.

Figuras como essa, certamente, foram impensadas pelos nomes da arquitetura e urbanismo que ganharam fama ao projetarem todo aquele espaço. O “homem dos pombos” é uma representação da imprevisibilidade das práticas dos corpos no espaço público e, também, de certa resistência, em uma microdimensão, ao que foi planejado para ali acontecer. O franzino corpo de Monsieur Giuseppe reage ao grande corpo-luz de Paris.




jeudi 12 juillet 2012

Montpellier, vestida para dançar

Há cerca de um ano escrevi o texto abaixo com a intenção de publicá-lo em jornal ou revista. Não encontrei um espaço para isso e acabei deixando-o arquivado. Acontece que essa escrita foi tão prazerosa que merece uma publicação, mesmo que tardia.   



Montpellier, vestida para dançar.

Graziela Andrade
Partindo de Paris, a cerca de três horas de trem em direção ao sul está Montpellier, uma cidade que se veste de paisagens culturais variadas, como se buscasse atender a nossos velhos sonhos de um lugar ideal para se viver. O cenário é mesmo onírico. Capital da região Languedoc-Roussillon, banhada pelo mediterrâneo e com mais de mil anos de histórias para contar a cidade exibe toda a sua simpatia azul em um verão que guarda o sol até as dez da noite para proveito dos cerca de 250 mil habitantes (o número dobra quando se conta a região metropolitana) e inúmeros visitantes que passam por lá, atraídos pelo céu, mar, sol e também pelos diversos festivais que são promovidos. Em um desses descobri Montpellier vestida para dançar. Mas, as fantasias poderiam ser outras: cinema, vinho, arte chinesa, gastronomia, show de cavalos... faça seu pedido!
O meu foi atendido! Uma cidade que inspira e expira dança, ao menos entre o fim de junho e começo de julho. Há mais de 30 anos isso acontece. O Montpellier Danse, transforma a cidade em uma espécie de capital da dança, é um festival consolidado, respeitado mundialmente e pelo qual já passaram inúmeras companhias e os nomes mais falados do universo da criação coreográfica contemporânea. Aliás, melhor seria empregar a palavra região, pois os espetáculos oficiais acontecem em 23 espaços diferentes, que se estendem pela chamada aglomeração de Montpellier e por outras cidades de Languedoc-Roussillon. Além disso, há ainda o festival off organizado por artistas locais que não se apresentam no circuito oficial, mas promovem espetáculos em lugares e horários alternativos. O preço da grandeza está no necessário esforço da renovação, pauta que o presidente do festival, Michel Miaille, aponta como desafio tomado para esta 31° edição. Neste rumo, o festival de 2011, que aconteceu entre 22 de junho e 07 de julho, apostou em algumas reformulações em seu programa com a intenção de promover a abertura do pensamento e novos caminhos a se explorar.
A primeira foi a inclusão das artes circenses na programação como possibilidade de alargar o imaginário do corpo a partir do trabalho de artistas que também o tomam como expressão e como questão na criação. Atravessando o mediterrâneo encontramos a segunda sugestão da curadoria. A aproximação que tem sido realizada com as companhias Israelenses garantiu forte presença dos artistas de Tel-Aviv no festival, cidade que seria, assim como Lyon e Montpellier na França, a capital da dança em Israel. A terceira sugestão de novidades para o festival tratou das agradáveis tardes divididas com o artista associado Raimund Hoghe – diretor, ator, escritor e dramaturgo de Pina Bausch durante toda a década de 80 -, que promoveu encontros em um formato experimental de atmosfera incrivelmente gentil. Pude saborear com grata surpresa essas propostas da curadoria, embora não tenha encontrado poética em todos os espetáculos que assisti o que, naturalmente, fez com que algumas das experiências que tive tenham parecido esvaziadas de sentido. Falemos, no entanto, do que me tocou, partindo da pista que já foi dada: Les aprés-midi de Raimund H.
Foram seis os encontros, sem um programa previamente definido, com a simples intenção de reunir pessoas com alguns interesses comuns e a partir daí trocar inspirações, pensamentos, olhares e, especialmente, refletir sobre novas maneiras de se criar. O coreógrafo, de generosidade apreciável, conduziu a tarde que presenciei como uma suspensão no tempo. Uma pausa delicada sem objeto claro, diante da qual prevaleceram sensações como as de pureza, amabilidade e encantamento artístico. De maneira muito simples, Raimund apresentava alguns vídeos autorais ou de cantores que aprecia e comentava sobre como cada um deles o sensibilizou através de meros detalhes, como as mãos presas à cintura do ícone francês Edith Piaf ou a intensa tristeza da cantora Dalida. Com o reforço das palavras de Raimund, essa francesa de origem egípcia que na imagem interpretava Avec le temp,  gerou um silêncio comovente na bela sala Béjart, um dos espaços da edificação chamada de “Agora: cidade internacional da dança”. Orgulho da cidade esse complexo, reformado em 2010, é inteiramente dedicado a criação artística em dança e tomou o lugar do antigo Couvent des Ursulines, no centro histórico de Montpellier. Foi lá que, como quis o artista, abriram-se as portas para sua fábrica de criação e nesse espaço, não há nenhuma parafernália ou grandes aparatos técnicos, quiçá o corpo: a lição da tarde versa sobre a máxima da sensibilidade. É nela que Raimund encontra o desconhecido, que nos revela com seu altruísmo tão peculiar.
Contrariamente, dois outros espetáculos que assisti podem ser ponderados pela complexidade, embora essa seja a única semelhança que posso citar entre eles. P.P.P. (Position Parallèle au Plancher) de Phia ou Phillipe Menard, exibido no Brasil em abril de 2010, já se apresenta nessa circunstância pelo próprio título e nome da artista. Em cena o corpo de um homem que se sente mulher entra em combate com tal realidade e coloca-se em risco questionando o habitar de um corpo que não revela em nada o que se é. No palco estão três congeladores móveis: um deles repletos de bolas de gelo que a performer usa como malabares e, ainda, três grandes blocos congelados com os quais o corpo cria embates. Sob toda a extensão do teto estão penduradas várias outras bolas, também de gelo, que despencam de tempos em tempos despedaçando-se com violência no contato com o chão. Diante do espaço descrito o corpo pena, queima-se, desliza, sofre quedas, corre riscos. O gelo como elemento estético e reflexivo complementa o cenário de uma dura batalha, onde é preciso manter o equilíbrio entre as memórias de um corpo que se desmancha e seus registros já solidificados. Os aplausos mais calorosos que ouvi durante o festival parecem colaborar com os desmanches que por fim cobrem o palco. O novo estado do gelo é corrente e anuncia uma desejada fluidez entre corpos.
Já em Brillant Corners, do israelense Emanuel Gat, a complexidade está na própria constituição do movimento. Aliás, o complexo parece ser o princípio das formas propostas que se ordenam e desordenam, como a imagem de um grande cardume que altera o volume de sua paisagem. Nesse todo que se conforma ininterruptamente, cada parte pode ser vista em solo, mas completamente integradas entre si. Como o pensamento complexo sugerido pelo pesquisador Edgar Morin, a cena se compunha em ações de distinção, conjunção e implicação, em que era possível, sem dissolução das partes, ver cada bailarino, cada conjunto, e ao mesmo tempo todos como um só organismo. A dança de Gat beira a hipnose, revelando um universo vivo e interdependente diante de um sistema de forças encarnado pelos corpos de bailarinos.  O artista põe em evidência uma espécie de organismo coreográfico em retroalimentação, no qual paira uma energia em circulação contínua que é ao mesmo tempo produzida e consumida pelo movimento daqueles dez corpos e do único grande corpo que eles também são. O movimento que se desenhou nesta noite alcançou uma qualidade própria ao ato de ser e de viver e pode nos fazer refletir sobre como a dança, enquanto movimento de corpos no mundo, pode mesmo se inspirar ou ser vista em muitas esquinas por aí. Afinal, dança e vida dividem um só lugar de encontros, que por vezes, brilham mesmo.
Esta singular paisagem em formação, exibida no charmoso teatro a céu aberto do Agora, encerrou a visita à cidade fantasia em seu viés dançante. Neste ano, os organizadores do Montpellier Danse preocuparam-se em promover um festival no qual fosse possível a realização de encontros entre artistas e público, a experimentação de formatos e linguagens, cuidando ainda de evitar restrições em termos de preferências estéticas. Três dias foi um período curto demais para se ver tanto, e ao mesmo tempo, suficiente para se apreender uma atmosfera ímpar de realização em dança que, se não alcança tudo o que pretende, renova o essencial desejo de se continuar criando.  

vendredi 17 février 2012

Aquela vida assim... sem surpresas!

De uma série de vídeos humorísticos produzidos por um canal de TV francês tirei a notável frase: Na vida a gente nasce e morre e entre esses dois fatos algumas coisas acontecem. Estes dias percebi também que a rede social facebook começa a impor sua nova diagramação, que não me agrada em nada, e que recebeu o nome de “linha do tempo”. A esses dois temas acrescentei a frase que dá título a esse post e que não me saiu do pensamento desde que a escutei em uma conversa de amigos.

Seguindo os indícios diria então que estamos fadados e talvez desejantes a linearidade. Nascer, crescer, reproduzir e morrer. Não foi assim que aprendemos? Não é essa a função animal? Então o animal humano, nessas coisinhas que faz entre nascer e morrer, vai buscar não sair da linha, seguir a risca o protocolo, fazer seus seguros. Seguro de vida não é uma coisa engraçada de se pensar? Só funciona quando você morre! Vai ver que é porque viver é 0% seguro. Que angústia pensar nesta nossa fatídica condição de vida sem saída. Então o que vale é se cercar de certezas para evitar surpresas.

Surpresa!!! A vida não é uma linha nem em eletrocardiograma. Aliás, se for você está morto! E não é no mínimo irônico uma rede propor linha? Hei, nós somos emboladinhos, desde o pensamento, cheios de nós, saltos e sobressaltos. Quem tem linha é trem e ainda assim, faz curva. Curvas? Samba, carnaval, jeitinho, flexibilidade, gente! Vamos nos abrir para as surpresas e torcer para que sejam boas.    

Eu tive a minha na curta passagem que fiz por Paris, no momento em que a cidade se apresentou mais dura pra mim: fria, de poucos amigos e grandes distâncias. Aluguei o quarto de uma colega de férias no Brasil e que me apresentou o dono da casa com a frase “não se assuste, atrás daquela barba existe um cara legal”.  Felipe é o dono da grande barba que se mistura ao cabelo proporcional, diria eu um Papai Noel contemporâneo que trocou as henas por gatos. Uma gentileza sem fim, das “aulas de conversação” (ele fala bastante), aos bolos, mel, crepes, remédios e cuidados que ele me dispensava prazerosa e diariamente. Um lindo coração comunista que dividia do pote de manteiga às luzinhas da parede, já explico.  Um dia elogiei as luzinhas na parede da sala e perguntei onde poderia encontrá-las, pois queria levar para o meu sobrinho que adorava. Ele logo quis me dar as dele, mas aproveitei que eram rosa para dissuadi-lo da idéia, que eu considerava abusiva. Na minha última noite por lá, fui entrar no quarto e, então, chutei uma caixinha no chão em frente a porta. Ele havia percorrido três lojas diferentes no inverno infernal daqueles dias, pediu para os vendedores procurarem no estoque. Rosa, verde, vermelha. Não servia! Até que ele encontrou a azul, para meninos no Brasil. Sei pouco sobre esse cara grandão, mas sei que ele teve uma grande má sorte na vida, da qual se curou e agora parece valorizar cada pequena surpresinha que ele pode fazer ao outro.   

Então que seja esse o movimento do nosso carnaval. Surpreendam positivamente os estranhos mais próximos ou os próximos mais estranhos, como bem quiserem. Boas surpresas em rede para todos!
 

vendredi 23 septembre 2011

Acidentadinha da Estrela

Começo este post com um fragmento de memória de infância do qual ainda duvido um pouco da veracidade... 


Eu era pequena e estava doente, tinha faltado a escola e estava deitada na cama da mamãe, vendo desenho animado. O telefone ao meu lado tinha uma extensão até o escritório de casa onde minha mãe trabalhava. Eu podia pegá-lo a qualquer hora para fazer pedidos, era mágico. 
- Mãe, to com fome!
- E logo ela  apareceu com empadinha e suco natural de laranja!
- Cama, TV, sem escola, desenho, ar condicionado e empadinha as 4 da tarde no meio da semana?! Gente, eu to doentona!

Voltando ao mundo real, já crescidinha.
Adoro a sensação que o vento traz quando estou andando de velo pelas ruas de Paris, talvez seja mesmo por um retorno a infância, uma liberdade quase absurda de se ter aos 33 anos. Pela noite nem tenho pressa, é lindo ver a cidade iluminada, sem precisar disputar com carros e ônibus e podendo escutar o carinhoso sussuros do vento que parece contar segredos.

Mas, era dia, mochila nas costas, RIB nas mãos, burocracia resolvida. Estava atenta para não errar o caminho que fazia sozinha pela primeira vez, e estava veloz, muito confiante, talvez demais um pouco... Hum, é por ali, lembro-me dessa subidinha para carros, já passei lá. Pensa rápido tá chegando. É para carros! Acho que dá. Ah, vou arriscar. Mas, assim meio de lado? O pneu tá um pouco murcho. Tá rápido. Pensa rápido. Ah, dá sim, eu vou tentar. Apagão.  

Meu cabelo não voa. Ai, nossa! Eu to no chão. Ih, meu seguro saúde venceu! Gente, to tonta. Ai, ta doendo. Minha cabeça! Que galo! Fica em pé. Isso é arnica, ponha tudo debaixo da língua. Potinho azul. Ah, obrigada, muito gentil. Vou ligar para os bombeiros. Celular na mão. Não, moço! Ai meu deus, em francês. Saco. Eu to bem. Lágrimas rolando. Não, toma o resto da arnica você não tomou tudo. Potinho Azul. Merci. Eu vou ligar sim. Celular. Não! C´est pas grave. Aiiiiiiiiii. Eu vou guardar a velo vou pegar um ônibus. Pronto to bem. Aiiiiiiii tá doendo. Lágrimas. Onde tem uma estação de velib? Ali, rua xxxxxx, soletra x x x x. Você tem pra quem ligar? Eu tenho um amigo eu vou ligar. Obrigada, eu to bem. Aiê, aiê. Vou guardar a velib. Não chama os bombeiros não, moço. Vou pegar o ônibus. Subo na bicicleta, medo. Lágrimas, lágrimas, lágrimas. Maldita rua cheia de vogais. Cadê? Que doooor!       

- Oi Gustavo!
- Não, to médio bem. Cai da bicicleta, bati a cabeça. Lágrimas, lágrimas, lágrimas. Ta doendo muito.
- Não, eu não sei onde eu to não. Ihhhhhhh. Vou perguntar.
- Moça... lágrima, lágrimas, lágrimas... Onde eu to? Como chama aqui? Por favor.
- Denfert. Gustavo, eu to te esperando em Denfert!
- No banco da praça, lágrimas. lágrimas, lágrimas. Aiiiii ta doendo muito.
- Gustavo eu to aqui!!!!
- Colooooo! Que delícia, lágrimas...
- Não, não tive mais nada é só a cabeça, sem enjoos, nem visão embaçada.
- Eu vou pegar um ônibus.
- Sem pressa, bebe água. Médico de colo, que delícia!
- Calma, chora, põe gelo. É um hematoma. Sim, a cabeça também fica roxa. Cabeleira! Colo!
- Meu ônibus, super obrigada meu querido amigo.
- Ônibus, lágrima, celular, Carol?!
- Ônibus, ahhh deixa eu dar meu lugar pra essa senhora idosa.
- Ônibus, lágrimas, celular, vizinha vc tem gelo?!
- Ônibus, lágrimas e uma doce senhora me dá a mão. Vai passar, minha filha!!
- Que linda! Vou contar tudo. Eu cai de bicicleta, tá doendo, já fui ao médico, eu to bem... Ai saco, falar francês agora.
- Coloca x x x x x x. Ah, sim obrigada, muito gentil a senhora, vou passar sim. Cheguei, vou descer.
- To chegando, consegui. Tonta. Casa, cama. 
- Casa, gelo, vizinha, fofa! Torta também, que delícia! Que bom!
- Ah cataflan é bom mesmo. Obrigada.
- Ah, que sorte essas pessoas legais perto de mim.
- Até que deu tudo certo, aiiiiii que dor.

Ah, agora eu to sozinha em casa né. Lágrimas, lágrimas, lágrimas. Será que compro um capacete? Ou recarrego minha navigo? Skype, família. Ah, eu to bem, só cai. Desliga. Skype, não mãe meu olho é roxo mesmo. Skype, acidentadinha da estrela, viu quantas pessoas te ajudaram! Ah, melhor ver assim né. Fome, ai minha mandíbula. Ihhh machucou também. Será que eu desço? Ai minha cabeça, sozinha né. Aiiiiii. Difícil dormir. Que que eu faço agora? Nossa tá doendo, mais neosaldina. Dorflex?
Pai?!
Mãe? Empadinha?





mercredi 7 septembre 2011

Louise Bourgeois, poética da solidez.


Esta artista franco-americana teve vida longa, despediu-se da contagem do tempo em 2010 com 98 anos. Demorou a ser notada, mas teve prazo para sacar e expor suas duras aflições mundanas esculpidas em mármore, bronze, sucata, madeira e o que mais lhe doesse a dureza de uma traumática infância não superada. Remetendo-se, frequentemente, ao desgosto de menina sem amor de pai, Louise elabora peças, aparentemente obscuras em uma forte atmosfera de enfrentamento e rancor.

Mas, ouvindo-a em meio a solitude e solidez de seus objetos, enxerguei a armação de uma beleza. Em entrevista, ela comentava sobre suas "cells", série de instalações enclausurantes, que diziam sobre diferentes medos geradores de emoções de dor. Em "Eyes and Mirror" (1994) uma estrutura que está mais para câmara de tortura do que para objeto artístico, depara-se com um gradeado de ferros que envolve uma série de espelhos, vidros e formas em mármore que lembram gigantescos olhos. Olhos estáticos e espelhos móveis que lhe fazem clamar: Existem várias realidades, várias realidades!

 

Em seguida, a velha senhora de olhar escaposo, tira o mito de Narcísio da cartola para dizer sobre como ele se sufoca pela perda do senso da realidade. E, como se tivesse o dom de resolver em poucas palavras questões que o existencialismo humano não pode apreender, Louise continua em sua afirmativa, que tento replicar em aproximação: Existem várias realidades, é preciso aceitar que não vemos a mesma coisa e que nunca saberemos o que o outro vê. É preciso aceitar as várias realidades. Não há conflito nisso, há ajustes e o denominador comum é a flexibilidade.

Não é bonito pensar neste reflexo do sólido? Em "Eyes and Mirror" Louise buscou flexibilidade em pedra para se libertar da dureza da consciência. Abriu os olhos para mirar e admirar refrações que é tudo o que podemos alcançar e aceitar no outro.  

mercredi 31 août 2011

Pina em escapes

Acabo de rever Pina, o filme  de Wim Wenders sobre a obra da amiga e coreógrafa alemã Pina Bausch, que dispensa apresentações. Lembrei-me que da primeira vez que o vi, há cerca de 4 meses, não escrevi sobre ele, talvez por não ter conseguido transformar o êxtase em palavras. E certamente, falho de novo agora, pois não terei habilidade descritiva para essa transferência de linguagem. O próprio diretor, afirma que só se arriscou em sua criação quando o 3D se tornou uma possibilidade para ele. O filme começou a ser feito com a coreógrafa, mas após sua morte repentina foi deixado de lado e, posteriormente, retomado em novo formato. Talvez tenha vindo dessa tragédia da vida real uma ideia de passagem presente no filme, que me parece deslocada da obra e das cenas. São depoimentos dos bailarinos da companhia, em língua original, carregados de feições melancólicos e que perpassam com luto as fantásticas, originais e emocionantes imagens que saltam da tela e fazem vibrar o corpo assentado. Não gosto da quebra que eles estabelecem na narrativa e acho mesmo que não acrescentam muito. Estão todos lá pra dizer que Pina quase não dizia com palavras, então imagino que fosse melhor não dizer em língua falada, eles tem um corpo inteiro pra isso.        


Dizer, escrever, falar da Pina lembra aquela sensação vaga que temos pela manhã ao tentarmos lembrar de um sonho que estava fresco na mente, mas acabou de escapar. Ou ainda, aquela quase memória que se forma na ponta da língua, mas insiste em não sair em palavra. Fabulosamente, o que Pina parece desnudar são essas intimidades, que enquanto cena, revelam sentimentos genuinamente humanos e, com tanta poética tocam de forma certeira o espectador, revelando uma série de sensações por demais prazeirosas. Arte na carne, esse filme me deixa inexplicavelmente feliz, poderia vê-lo 365 vezes. É incrível como Pina faz da dança o alcance do escape. Ela deve ser sempre celebrada! Pronto, como previsto secaram-se as palavras, então deixo aqui a simples frase com a qual a genial Pina Bausch encerra o filme: Dancemos, dancemos ou estamos todos perdidos!   


mardi 30 août 2011

365éme jour: C´est fini!

Entre trancos e barrancos consegui cumprir o objetivo inicial deste blog: 365 posts. No entanto, minha história em Paris vai se estender um pouco mais, assim como essa pesquisa ainda tem um grande caminho a percorrer. 
Então termina aqui o compromisso das escritas diárias, pois agora elas serão esporádicas e assim, aumentam as chances de serem mais interessantes. Afinal, não é todo dia que há algo a se dizer, nem mesmo em Paris, que por fim é só uma cidade, linda, mas só outra!