Quando o clima permite, o grande pátio
retangular em frente ao Centre Pompidou,
museu de arte moderna em Paris, é ocupado por artistas de rua, pelo público que
os assiste; ou aguarda em filas sua vez de entrar, e também pelos passeantes
que ali se estendem diante do sol ou, simplesmente, percorrem o largo com um
olhar, frequentemente, curioso. Um recorte perimetral desse espaço, nos reserva
uma verdadeira performance com hora
marcada, duas vezes ao dia.
Monsieur Giuseppe e seus pombos no Centre Pompidou |
Um imigrante italiano, morador de rua, chamado
Giuseppe, ocupa, nos sete dias da semana um mesmo quadrante - localizado atrás
do ateliê do artista Constantin Brancusi,
anexo ao museu -, para alimentar centenas de pombos.
Pouco antes das 18 horas é
possível ver as aves empoleiradas sobre o telhado do atelier aguardando a
chegada de seu benfeitor que passa horas em curso pelas boulangeries de Paris, recolhendo pães dormidos para alimentá-las.
Aos mais fracos fica reservado o milho que o “homem dos pombos” faz questão de comprar
e, cuidadosamente, a eles dirige. O mesmo ritual acontece também pela manhã e não deve,
em absoluto, ser interrompido, pois o risco é de erguerem-se em
revoada os pombos e em fúria a voz do homem.
Ele
conta, que pelo fato de alimentar os pombos, já foi multado diversas vezes pela
prefeitura e perdeu o direito aos abrigos da cidade, mas, ainda assim, entende
que os animais precisam de seu cuidado e afirma que não pretende deixá-los à
revelia. Esses episódios duram apenas alguns
minutos diários, mas o hábito e a frequência do ato desse senhor, ocupa muito especialmente,
aquela área do pátio, deixando registros peculiares que tornam aquele um espaço
de pertencimento, aos pombos e seu senhor.
Figuras como essa, certamente, foram
impensadas pelos nomes da arquitetura e urbanismo que ganharam fama ao projetarem
todo aquele espaço. O “homem dos pombos” é uma representação da
imprevisibilidade das práticas dos corpos no espaço público e, também, de certa
resistência, em uma microdimensão, ao que foi planejado para ali acontecer. O
franzino corpo de Monsieur Giuseppe reage ao grande corpo-luz de Paris.